Quando vim morar em São José dos Campos, interior de São Paulo, sempre viajava para a capital a lazer ou para cursos de comunicação. Gosto de viajar de ônibus porque dá para descansar e ler alguma coisa na viagem. Por isso, me acostumei a comprar pocket books em bancas das duas rodoviárias, que possuem temas ótimos e variados.
Foi quando me deparei com o livro “Adams Óbvio”, publicado pela primeira vez em forma de conto em 1916, sobre a história de um publicitário, Oliver B. Adams, que percebia os fatos de maneira simples e transformadora, tornando-se um livro atemporal, considerado essencial para qualquer negócio e indicado pelo The New York Times como livro de cabeceira obrigatório para o sucesso profissional.
O segredo desse sucesso centenário é a objetividade aplicada por Adams, tendo todas as possibilidades em vista antes de escolher um caminho, e não escolhendo o caminho mais simples. Ele entendia que, para perceber o óbvio, é preciso analisar e se envolver com os fatos que a maioria das pessoas evitam por exigir mais dedicação.
A perfeição é feita de pequenos detalhes
e não apenas um.
Michelangelo.
O autor desse livro, Robert R. Updegraff, menciona profissionais focados apenas em métricas consagradas de publicidade para vender, mas acabam com resultados insatisfatórios por não enxergarem o óbvio. “O problema é que aquilo que é óbvio parece tão simples e comum, que não exerce nenhum efeito na imaginação ou assunto para discussão”, comenta Robert. É preciso pensar menos em ego e mais em experiência para encontrar soluções realmente úteis ao consumidor.
Um caso contato pelo ex-diretor de marketing da Coca-Cola, Sergio Zyman, em seu livro “O fim do marketing como nós conhecemos”, sobre a criação de uma rodada de anúncios da coca para a televisão que levou para análise do então presidente da companhia, Roberto Goizueta. O presidente logo disse que não gostou dos anúncios, com resposta de Zyman dizendo “Se você pretende comprar todos os nossos produtos, no mundo todo, ficarei feliz em fazer comerciais que você gosta. Caso contrário, continuarei a fazê-los para os malditos consumidores”.
Goizueta aceitou a ironia, dizendo que a partir daquele momento gostaria de ver somente os resultados e não os anúncios. Isso porque os anúncios foram criados com base em estudos dos consumidores e o presidente teve sua reação com base apenas em um fator, o gosto pessoal. Portanto, o marketing deve ser experimentado e avaliado constantemente para se obter as melhores ações e resultados.
Não existe nada mais classe Z do que um publicitário que só enxerga classe A. Washington Olivetto, em seu livro "Os piores textos de Washington Olivetto"
Adams iniciou sua carreira no departamento de periódicos na Oswald Agency, que logo em seus primeiros dias, já sugeriu melhorias nos métodos de trabalho do departamento, conseguindo reduzir tempo e custos, já observando como os redatores da agência trabalhavam. Após observarem sua dedicação e rascunhos sobre as campanhas da empresa por conta própria, logo conseguiu a vaga de estagiário na redação.
Certa vez, a agência pegou a conta de uma empresa de bolos e queriam anúncios para aumentar as vendas ruins. Adams ouviu os comentários da conta, iniciou suas pesquisas e comprou bolos da empresa na esperança de participar da campanha, que acabou indo para os redatores experientes. A campanha ficou pronta, com textos lindos parecendo obra de literatura e todos entusiasmados para colocá-la em prática.
A campanha durou cerca de quatro meses, mas sem os resultados esperados, fazendo com que a empresa descontinuasse o contrato. Foi quando Adams resolveu mostrar sua versão da campanha para o presidente da agência, que olhou maravilhado e disse que o erro anterior foi ter feito propaganda de mais e venda de menos. Com isso, convenceram a empresa a voltar, lançaram a nova campanha, mais simples e direta, com proposta que exalava cheiro de cozinha de vó em dia de bolo e com recorde de vendas.
A simplicidade é o último grau da sofisticação.
Leonardo da Vinci.
O professor José Predebon, em seu livro referência nacional em inovação, “Criatividade Abrindo o Lado Inovador da Mente”, menciona estudos que comprovam que o homem processa ações provocadas por associações e aproveitamento de experiências anteriores, que constituem um tipo exclusivo de reação a estímulos que pode ser chamado de criatividade e precisa ser estimulada para obter resultados.
As ideias criativas normalmente são simples e óbvias, não como resultado de algum efeito eureca, mas por análises, experiência e envolvimento com o tema em questão, criando soluções que ninguém foi capaz de perceber, até ser demonstrada. Como o famoso caso do post-it, criado a partir da aproximação e compartilhamento dos estudos de um cientista da 3M com um problema de partituras que caíam de outro cientista (músico nas horas vagas), de outro departamento da 3M.
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O acaso favorece a mente conectada.
Steven Johnson (De onde vêm as boas ideias).
As pessoas que quiserem se posicionar melhor em suas vidas ou carreiras, devem estimular a capacidade de lidar com a criatividade como algo experiencial. Devido ao grande aumento de informação, integração e competitividade, devemos criar mecanismos criativos para filtrar as opções e criar soluções que se comuniquem com as pessoas, sejam simples de explicar, causem efeito impactante e gerem resultados.
Por Murilo Almeida